Felipe Homsi


Jornalista não morre. Certeza que não. Ricardo Boechat, por exemplo, parece que morreu, mas, se eu procurar por aí, sei que o encontrarei em algum lugar. Pelo menos é o que a imagem televisiva faz, eternizar personagens, transformar meros mortais em figuras perpétuas nas mentes e corações. Não somente a tevê, mas todos os meios de comunicação possuem esse poder. Afinal, se nós, jornalistas, ficaremos de alguma forma perambulando por aí perpetuamente, do que afinal nós morremos?

 

Morremos de humanidade. De ver a injustiça cavalgar mundo afora, de acordar para narrar a desgraça que o preconceito proporciona na vida de quem o sofre, de observar e muitas vezes ser testemunha ocular da morte humana que poderia ser evitada, de ver a fome na casa da família e de não poder ao menos consolar corações, disso, dentre tantos outros fatos, padece o profissional da imprensa. E se não for para morrer como humano, prefiro não padecer. Pelo contrário, é melhor ficar por aí em uma imagem de tevê e não saber nunca o que realmente é a morte.

 

Quando foi que inventaram a teoria do jornalismo com balão de festas? Perversamente, transformam o ofício das notícias em uma festa de aniversário com pipoca, docinhos, parabéns pra você e até mesmo palhaço. E querem convencer de que esse é o melhor caminho. Não é. Assim como a vida, a profissão de jornalista é conflito, é guerra, é dor, é sofrimento, é sangrar até a morte, morte de humanidade. E a quem acha que é preciso dar a notícia boa e a ruim com o mesmo peso, minha discordância.

 

O jornalismo da alegria, que mais parece um trenzinho que circula pela cidade com música, não transforma realidades, não convence, não diz a verdade. A contradição, o conflituoso e a informação chocante é justamente o que coloca o público frente à realidade que muitos querem esconder. Apresentar o que está ruim e defeituoso é, na verdade, um serviço. O que já está bom não precisa do toque jornalístico e nem do choque noticioso de realidade. O segredo precisa ser revelado e os aspectos profundos da notícia devem ser explorados.

 

Noticiar as alegrias é proibido? De maneira alguma, desde que seja feito como referência de bom exemplo. Não dá para soltar fogos de artifício no jornalismo. Se o que o jornalista procura é contribuir com mudanças positivas em um mundo com discrepâncias e realidades complexas, precisa explorar aquilo que é desagradável aos olhos e ouvidos. E não me venham com o discurso da neutralidade jornalística. Não dá para ficar neutro quando a humanidade está em risco. E se for pra morrer, que seja de humanidade.

 

Felipe Homsi é jornalista atuante no município de Anápolis, Goiás e proprietário da HBF Comunicação